A natureza por si só é agressiva, e com o desenvolvimento dos diferentes tipos de civilização, fomos aprendendo aos poucos como lidar com as forças climáticas, predadores macro e microscópicos, cortes, contusões, farpas no dedo ou o mindinho do pé no canto da cama.
Mas é preciso lidar também com os perigos e opressões da humanidade, muitas delas não só físicas, mas também psicológicas.
Recentemente tive um pequeno machucado no dedo, coisa pouca, acontece sempre, ignorei. Com a ferida aberta, o machucado aumentava, abri espaço para invasores, eles se instalaram em meu dedo, e a partir daí iniciou-se uma briga homérica em meu corpo. Assisti por duas semanas a batalha dos glóbulos brancos, que convocaram um exército acampado no linfonodo de minha axila. Cuidei também da ferida com curativos, emplastro caseiro anti-inflamatório, também antisséptico.
A minha ferida aberta e não cuidada, abriu um portal de passagem, permitindo que serem não-bem-vindos tentassem me consumir.
No último sábado dia 28 de outubro, depois de fazer a maratona para assistir os nove episódios de 50 minutos da segunda temporada de Stranger Things (Duffer Brothers 2017), fiquei refletindo sobre as feridas não curadas e seu potencial destrutivo.
No fim da temporada, após Eleven fechar o portal que conecta com o mundo invertido (upside down), apresentado como uma ferida que precisava ser curada, criado pela própria Eleven, resultado dos sucessivos experimentos para testar seus poderes e ciclos de opressão física e psicológica dentro do Laboratório Hawkings. Para fechar o portal e a ferida, a personagem precisou metabolizar as memórias que a consumia, tirando das próprias experiências e opressões, a força para lutar contra elas.
Onde eu quero chegar?
Precisamos falar e cuidar de nossas feridas abertas, pedindo ajuda sempre que possível. Para as feridas físicas curativo, sutura se necessário. Para as psicológicas, muita meditação, serenidade, observação, análise, olhar para si como alguém exterior, buscar melhorias sempre que possível. Não tenha medo de falar e compartilhar com os outros, busque ajuda se for preciso. Feridas não curadas tem potencial destrutivo, em nós e no mundo real, ou invertido.
Gustavo Reginato
Editor Caseiro
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